Se você se interessa pelo mundo do vinho, as chances de já ter visto por ai o termo terroir são imensas. Mas saber o que ele realmente significa não é uma tarefa tão simples assim. Segundo Madeine Puckett do site Wine Folly, “terroir é uma dos termos mais falados e menos compreendidos do mundo do vinho”.
Foto: Winepedia
Para começar a complicação, a palavra francesa não tem tradução em outras línguas. Em português é comum associarmos com palavras similares, como terra ou terreno. Mas terroir no vinhedo é muito mais do que isso: é a somatória de todos os fatores ambientais que interferem naquele pedaço de terra. Clima, solo, inclinação, orientação solar, ventos, topografia, quantidade de chuva, névoa, horas de sol, ou seja, tudo o que é relacionado ao ambiente de cada local.
Considerando-se todos esses fatores, muitas vezes terroir é chamado de microclima. Mas a definição de terroir tem um a fator a mais, fundamental para que possamos entendê-lo: a intervenção humana. A tradição, o modo como as coisas são feitas naquele determinado local, segredos passados de geração para geração de como o vinhedo reage e a uva se comporta são fundamentais no conceito de terroir.
Um exemplo clássico dessa intervenção humana é a Borgonha. Monges cistercienses mapearam cada pedacinho de terra da região, e a dividiram na “colcha de retalhos” que conhecemos hoje. Uma região aonde apenas duas uvas são plantadas: chardonnay e pinot noir. E cada pedacinho de terra produz um vinho com características próprias, distintos entre si, e nomeados de acordo com o local de onde vêm. Chablis, região no norte da Borgonha, produz vinhos maravilhosos a base de Chardonnay, com um toque salino característico. Salino como se Chablis está bem longe do oceano?
A salinidade é resultado de seu solo calcário Kimmeridiano – há milhões de anos atrás, a região era um oceano. Ou seja, o solo exercendo sua influência no vinho. Diferente de outros vinhos brancos da Borgonha, geralmente Chablis não passa por barricas de madeira- escolha do homem para preservar a acidez e salinidade características deste vinho.
Tem outro fator interessantíssimo, sobre o qual pouco se sabe ainda: os micro organismos de um local exercem influência sobre o vinho. Por isso que um vinho pode ser sensacional em um pedacinho de terra e não tão incrível assim no vizinho.
Cada vinho tem um indicador biológico do local de onde ele vem” – explica Madeleine Pucket. Ou seja, não só o solo, mas também cada fungo, bactéria, cada minhoca que vive naquele local influencia o sabor e aroma de um vinho.
E não é só vinho que tem terroir! Os queijos da Serra da Canastra, por exemplo, se beneficiam de água pura e capim fresco para alimentação das vacas, o que dá a eles características únicas. Tudo dentro da tradição em fazer queijos, trazida pelos portugueses. Tabaco, chocolate e café também são produtos conhecidos por possuírem terroirs distintos.
Quando falamos que cada garrafa de vinho é uma viagem, não é exagero. Um vinho que expressa seu terroir tem mesmo o poder de nos levar ao seu local de origem, seja pelo tipo de uva utilizado, seu método de produção ou até mesmo minúsculas bactérias que habitam um vinhedo.
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